O Papa, Reinaldo Azevedo e uma polêmica

Publicado: 27 de janeiro de 2015 por Kzuza em Comportamento
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Hoje li o seguinte artigo, publicado no site Pragmatismo Político, e postado no Facebook:

Um colunista da Veja em dia de fúria contra o Papa Francisco

Nossa amiga Nelma Sarri, que é seguramente a baiana mais engraçada e inteligente desse país, comentou o post dizendo:

Esse cara é o mais completo imbecil. Não entendo pq as pessoas continuam lendo seus artigos. Pra gente assim o melhor tratamento é a mais completa e absoluta indiferença.

Bem, eu não poderia deixar de ser irônico e questionar:

Não entendi direito… Você está falando do Papa ou do Reinaldo?

É claro que é brincadeira. Eu entendi o que ela quis dizer. Não sou tão burro a esse ponto.

Vamos lá, nem vou defender o Reinaldo Azevedo porque eu não tenho envergadura moral para tal, nem tampouco uma opinião formada sobre o jornalista. Já li muita coisa boa escrita por ele, mas também já li várias baboseiras. Mas vou me ater, nesse caso, à declaração dada pelo Papa Francisco mencionada pelo jornalista:

Se xingar minha mãe, espere um soco.

Poxa, Papinha! Eu gostava tanto do senhor! Achava o senhor tão bonzinho e inteligente, e você vem com uma dessas? Cadê a sabedoria de Cristo, quando disse que, diante de um agressor, você deveria oferecer o outro lado da face? O senhor é um líder espiritual e religioso, como pode dizer uma coisa dessas?

A declaração por si só, isoladamente, já seria um absurdo, mas contextualizada fica ainda pior. O pontífice estava comentando sobre um atentado terrorista cometido por radicais islâmicos que se sentiram ofendidos por charges publicadas em um jornal francês. Em outras palavras, o papa disse que é plenamente justificável revidar com violência caso você tenha se sentido ofendido.

O primeiro ponto a ser considerado é a definição do que é ou não ofensivo. O conceito de ofensa é completamente pessoal, e não genérico. O que é ofensivo para você não o é necessariamente para mim. É claro que você irá argumentar que existem coisas que são claramente ofensivas para qualquer um (como xingar de “féladaputa”, cuspir na cara, chamar de curinthianu, essas coisas), mas devemos concordar que o humor não é, de forma alguma, uma dessas coisas. Há sim quem se ofenda com o humor, mesmo em pleno século XXI, o que eu particularmente acho uma imbecilidade. Para mim, há piadas boas e piadas ruins, mas não algo que realmente me seja ofensivo de alguma forma. Sou sãopaulino e alvo de várias piadas diariamente, algumas boas, algumas ruins, mas sinceramente não consigo considerar nenhuma delas como ofensa. Mas até aí, é uma opinião minha somente, concordam?

De qualquer forma, o que está em questão aqui nem é a ofensa em si, propriamente dita, pois esse é um conceito, como eu disse, totalmente relativo e individual. Estamos falando da reação que você tem a ela. “Ninguém tem sangue de barata”, alguém irá dizer, e eu até concordo em alguns casos. Mas a falta de proporcionalidade no revide é que está em jogo aqui. Eu lhe atiro uma pedra, você devolve com uma bala no rosto. Eu lhe chamo de feio, e você chama a minha mãe de vadia. E por aí vai. Mas o principal mesmo é o peso da opinião emitida pelo sumo pontífice e as consequências de uma opinião dessas.

O Reinaldo Azevedo pode até ser mesmo, como disse nossa amiga, o mais completo imbecil. Até eu acho que sou às vezes. A diferença é que tanto a opinião dele como a minha (em muito menor escala, diga-se de passagem) não tem peso algum se comparadas à imbecilidade proferida pelo Papa Francisco.

comentários
  1. […] passado sobre o atentado terrorista à redação da revista Charlie Hedbo em Paris (já comentado aqui, aqui e aqui), li também essa semana um excelente texto a respeito do assunto aqui. Nele, o autor […]

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